
SANTO ANTÔNIO DO IÇÁ | Após a prisão de três policiais militares e um guarda municipal acusados de estuprar uma mulher indígena da etnia Kokama dentro da delegacia do município de Santo Antônio do Içá, o prefeito da cidade, Walder Ribeiro da Costa, gravou um áudio onde sai em defesa dos agentes. A gravação tem circulado em grupos de aplicativos de mensagens e redes sociais.
Na fala, o prefeito questiona os critérios adotados pelo advogado da vítima ao indicar os nomes dos policiais acusados. Segundo ele, muitos outros agentes passaram pela delegacia durante o período em que a vítima esteve detida, e não se sabe com base em que elementos os atuais presos foram selecionados para responder pelo crime.
“Eu queria entender qual foi o critério que ele usou pra escolher esses policiais para denunciar, Porque todo mundo trabalhava nessa delegacia, né?”, diz Walder, insinuando que a denúncia possa ter sido movida por interesses financeiros. Ele afirma ainda que o advogado da vítima estaria pleiteando uma indenização de R$ 500 mil do Estado.
O prefeito também coloca em dúvida a veracidade das acusações feitas pela mulher indígena, que, segundo ele, tem histórico de dependência química e transtornos mentais. “Como é que esses policiais, pais de família, vão ter relação sexual com uma mulher que é doente, usuária de drogas, que tem problema mental? Eu, sinceramente, não acredito”, disparou.
Em outro trecho, Walder diz que a Justiça está agindo com precipitação ao decretar a prisão dos policiais antes da conclusão das investigações. “Eles estão presos sem apurar nada. O julgamento foi feito pela televisão, pela mídia, e tem gente aí que nem mora aqui, condenando os caras sem conhecer nada.”
O CASO
De acordo com o Ministério Público do Amazonas (MPAM), os abusos sexuais ocorreram de forma recorrente entre novembro de 2022 e agosto de 2023, período em que a vítima, de 29 anos, esteve sob custódia na delegacia de Santo Antônio do Içá. Ela havia sido detida após se envolver em um episódio de violência doméstica e, ao dar entrada na unidade, foi constatado que havia contra ela um mandado de prisão expedido pela Justiça de Manaus.
Durante o período de custódia, a indígena teria sido estuprada diversas vezes por agentes públicos. A denúncia formal foi feita pelo advogado da vítima após ela ser transferida para Manaus. O Ministério Público, através do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), apurou os fatos e pediu a prisão dos envolvidos.
Até agora, quatro suspeitos foram presos:
• Um policial militar em Tabatinga;
• Um policial militar em Manaus;
• Um policial militar e um guarda municipal em Santo Antônio do Içá.
Outros dois policiais militares que estão com prisão decretada ainda não foram localizados, mas, segundo o MPAM, devem se apresentar.
REPERCUSSÃO
As declarações do prefeito têm gerado forte repercussão. Enquanto parte da população local demonstra apoio aos policiais, outra parte cobra justiça e respeito à vítima indígena. A Defensoria Pública do Estado e o Ministério Público seguem acompanhando o caso.
Entidades ligadas aos direitos humanos e à proteção de povos indígenas também têm se manifestado, exigindo apuração rigorosa dos fatos, responsabilização dos culpados e proteção à vítima.
O caso levanta ainda um debate sobre a precariedade das delegacias do interior do Amazonas, a vulnerabilidade de mulheres indígenas em situações de cárcere e a conduta de agentes públicos diante de pessoas em situação de fragilidade extrema.
INVESTIGAÇÕES CONTINUAM
O MP afirma que as investigações estão em andamento e que novas diligências serão realizadas. Os acusados devem responder pelos crimes de estupro de vulnerável e abuso de autoridade. A vítima segue recebendo acompanhamento psicológico e assistência jurídica em Manaus.
Por EG NOTÍCIAS